Até onde vai a liberdade de expressão? Para tratar disso devemos nos ater ao contexto jurídico apropriado de forma que o ato de expressar-se fora desse contexto já não é mais tido como uma 'liberdade de expressão', passando a ser uma conduta tipificada pelo Direito Penal, sendo qualificada como: ‘abuso,’ ‘infração’ ou ‘crime’.
Em resumo a liberdade de expressão chega até onde não estamos agindo de forma a suprimir ou perseguir direitos alheios. Este texto não é uma crítica ao conservadorismo, mesmo que aqui eu já tenha feito uma crítica aberta a quem negue a natural evolução social do homem alcançada sempre por meio de seus conhecimentos científicos e filosóficos (Leia aqui), existe uma certa beleza na mensagem que Trump prega ao mesmo nível em que ela consegue ser perniciosa e nociva para o bem estar social de nações formadas por entendimentos e culturas de vida tão diversas e complexas.
O conservadorismo e o nacionalismo defendido por Trump acabam solapando com os próprios ideias republicanos e de liberdade de expressão, sendo desse jeito pernicioso, de forma muito parecida com Bolsonaro e seus seguidores aqui no Brasil, jogando com o medo, e com os riscos sociais de sociedades que foram forjadas pelo próprio capitalismo e pela própria liberdade de culto e expressão. Qual a 'cultura americana'? Assim como: 'qual a cultura brasileira?'. Existe um pré projeto de formação de americanos que devam ser cristãos, heterossexuais, e nascidos e criados em terras americanas? Obviamente não. A nação americana é formada de latinos, de heterossexuais, de homossexuais, de protestantes, católicos e muçulmanos, negros e brancos, e essa diversidade cultural e ideológica, de conduta, raça, orientação sexual e de escolha, devem ser respeitadas segundo o contexto jurídico presente, que é o de fato o mais civilizado que temos, que é o ocidental. Deve haver uma luta para a manutenção dos direitos civis coletivos e individuais, e isso inclui um respeito às divergências de opinião internas e ao mesmo tempo uma promoção da união social pacífica de todos os atores políticos e sociais envolvidos. E o que Trump faz é jogar com o medo e com os riscos que cada vez mais a liberalidade traz sobre a sociedade moderna, que saiu do século XX de uma sociedade mais homogenia para uma mais heterogenia e complexa, em que a quantidade de informação gerada, armazenada e transferida nunca foi tão facilitada e em uma velocidade tão grande como o é atualmente, o que só tornam esses riscos ainda mais altos.
Da mesma forma existe uma beleza na mensagem de Trump, que é ver até onde o 'politicamente correto' tem regido a vida da população ocidental. Chegamos à um ponto de hipocrisia em que as pessoas não falam mais o que pensam pelo politicamente correto, e esse tem sido o motivo da manutenção de muito preconceito e de muitas ideias ignorantes que passam a ser discutidas apenas internamente no seio familiar ou na roda dos amigos no bar, o que Trump faz é dar voz à um grito entalado na garganta de milhões de norte americanos insatisfeitos com a condução dos assuntos sensíveis do país, assim como Bolsonaro faz no Brasil. A questão é exatamente o que seus eleitores falam: "Ele fala o que muitos não tem a coragem de falar". Dessa forma eu também odeio o politicamente correto hipócrita, as pessoas deveriam sim falar o que pensam, mas também devem estar dispostas à arcar com as consequências daquilo que falam ou fazem.
A luta sempre deve ser pela liberalidade, seja para o que for, e dessa forma o conservador também faz parte integrante da discussão social, no entanto tudo (repetindo o termo do começo do texto) deve estar dentro do contexto jurídico apropriado, de forma que não demos mais passos para trás e apenas para a frente. Ser politicamente incorreto não é o problema, o problema é a contradição que a própria nação ocidental que diz ser protetora da liberdade de expressão, dos direitos civis e individuais e da liberdade de culto cria quando uma parcela grande da população na verdade não defende esses ideais. Não deve existir uma normatividade institucionalizada em fatores de cunho de escolha individual e pessoal, e a régua que deve medir esses fatores devem ser embasados em termos científicos e técnicos e não religiosos, a religião de fato se inclui em outro fator de escolha pessoal mas que ainda assim está subjugada à Lei em termos gerais e nunca acima dela.
Dessa forma várias das declarações de Trump e do Bolsonaro são aquilo que parecem ser, não apenas politicamente incorretas, são ignorantes, superficiais, atentam contra os ideias da república e dos direitos civis e individuais, são preconceituosas, fracas e rasas, mas pelo menos servem ao propósito de expor o quanto as pessoas ainda possuem uma noção equivocada de 'normatividade coletiva' típica de países comunistas e radicais, que ignora o respeito à divergência, à raças, à cultura e a condutas e opiniões diferentes desta normatividade imposta, que no fundo nem eles mesmos seguem.
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