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Quem quer ser um traficante?



Dois pesos e duas medidas, enquanto a Indonésia reitera que vai continuar com seu programa de condenar à morte pessoas julgadas por tráfico de drogas, ela recorre na Arábia Saudita pedindo clemência contra a condenação à morte de uma cidadã da Indonésia que assassinou seu empregador. Uma contradição.

Agora qual seria a definição de tráfico de drogas na Indonésia?

Boa parte dos brasileiros que comentam sobre o assunto nas redes sociais, tem sua razão de estarem tomados de ódio justo pelo tráfico de drogas no Brasil, que transforma as favelas e morros em um caos com traficantes fortemente armados e faz das áreas próximas, e até mesmos longínquas, locais menos seguros, onde o cidadão de bem tem medo de viver sua vida cotidiana, seja ele da classe social que for.

Mas o caso da Indonésia é diferente da realidade brasileira.

Na Indonésia, assim como em outros países que condenam o tráfico com a morte, os condenados por tráfico de drogas são, na sua maioria, mulas sem antecedentes criminais, sem armas e sem qualquer poder sobre a vida de terceiros.  E assim como ocorre aqui no Brasil e em qualquer outro lugar do mundo, oque fomenta o tráfico não são os traficantes, são os usuários. Então posso afirmar sem o menor intuito de vitimizar o sujeito, que o Marco é só mais um de tantos 'Marco's', ou melhor, mais um de tantas mulas que são levadas pelos verdadeiros traficantes para abastecer a mercados como a Indonésia, esses verdadeiros traficantes, tipo os traficantes brasileiros, que estão fortemente armados, que matam, provocam o caos social e tiram a nossa paz.

Crimes que envolvam apenas tráfico de drogas não deveriam ser suficientes para condenar à pena capital. Embora o traficante ofereça um risco para terceiros que consumam a droga ninguém vai afirmar em sã consciência que a culpa de existirem usuários de drogas é do traficante. Seria a mesma coisa que afirmar que a culpa das mortes por uso de álcool, tabaco e cigarro, que são as drogas que de longe mais matam no mundo, são culpa dos vendedores das mesmas.  É a pessoa que utiliza a droga  a única que efetivamente pode decidir o próximo passo, continuar a usar ou parar e preservar sua saúde, sendo ela legalizada ou não. Por isso mesmo só existem traficantes porque existem usuários de drogas ilegais e nunca o contrário.

O caminho de condenar à morte traficantes do tipo do Marco, além de não ser eficiente no combate ao mal que as drogas representam, só vai tornar ainda mais atrativo para que outras 'mulas' como ele se aventurem na Indonésia, porque assim seu 'trabalho' se valoriza e fica mais caro. Além do que, embora esse termo hoje em dia pareça uma defesa para bandidos, é uma clara violação aos direitos humanos a condenação de pessoas à morte por tráfico de drogas, sendo apenas aceita em casos mais graves, que envolvam homicídio e ou crueldade premeditada, o que obviamente não ocorreu nesse caso.

Não nos esqueçamos também que outro atributo dos países que condenam à morte pessoas por tráfico, e que não pode passar despercebido, é que eles são famosos pela reincidência na violação aos direitos humanos: perseguindo cristãos e minorias, com legislações e governos pouco ou nada democráticos,  conduzindo julgamentos parciais e sem direito à defesa plena sendo muitos desses julgamentos tidos como forjados, com a inferiorização da mulher e seu tratamento como um objeto, entre outros.

Mas, sem nenhuma demagogia, o fato é que Marco, é um traficante, que foi pego em um país que condena à morte pessoas por tráfico, e que ele sabia disso, e mesmo assim correu o risco. Gostaria ao menos que eu tivesse o poder de entrevistá-lo antes da sua premeditada execução por fuzilamento, execução essa que nem vou comentar pelo nível de brutalidade, só gostaria de fazer uma única pergunta à esse senhor: - Valeu a pena?

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